28/07/2006 - 11h07 O Mundial de futebol de 2010 marcará o renascimento da África
Por Thabo Mbeki (*)
Pretória, julho/2006 (IPS/ANC Today) – Durante o intervalo da final da Copa do Mundo 2006 disputada no dia 9 deste mês no Estádio Olímpico de Berlim, a Federação Internacional de Futebol (Fifa), passou a mensagem convidando os amantes do esporte de todos os países a se encontrarem na África do Sul em 2010. De certo modo, o caminho para nos convertermos no próximo anfitrião da Copa do Mundo começou em 1994, quando conseguimos nossa libertação. Entrevistado antes de nossas primeiras eleições democráticas o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse, tendo como pano de fundo o conflito étnico que nesse momento atingia a Iugoslávia: penso que se esta eleição tiver êxito enviará uma mensagem a todo o mundo no sentido de que há outra maneira de resolver estes problemas. E se isso for conseguido na África do Sul, como será possível justificar as matanças, os combates e as mortes por um pedaço de terra ou pelas discórdias entre os povos, que nunca são tão importantes como as coisas que unem as pessoas por todas as partes? Estas eleições têm um enorme impacto histórico. Quando a Fifa decidiu pela rotatividade da disputa da Copa por todos os continentes levou em conta que seria difícil para muitos países, incluindo os da África, competir com êxito contra as nações desenvolvidas do Norte no sentido de obter a designação como anfitriões de uma Copa do Mundo. A Fifa também compreendeu que a Copa e o futebol, em geral, eram bem mais do que fazer gols e vencer jogos. Devido à popularidade do esporte, entendeu que também desempenha um importante papel em questões como a unidade e a reconciliação nacionais, o desenvolvimento social e econômico, a promoção da paz e o estímulo para uma cooperação mutuamente benéfica entre as nações. Quando a Fifa decidiu que a Copa deveria ser realizada na África do Sul buscou, precisamente, promover esses objetivos. Issa Hayatou, presidente da Confederação Africana de Futebol e vice-presidente da Fifa, esteve portanto muito certo quando disse que o fato de a África do Sul sediar a Copa do Mundo marcaria o renascimento da África. Do mesmo modo, Michael Palmer, chefe do Comitê Organizador da Fifa para a Copa do Mundo de 2010, estava certo ao declarar que o acontecimento mudará as percepções do mundo sobre o continente africano e proporcionará às pessoas maravilhosas oportunidades no futuro. A vitória que conseguimos em 1994 criou as bases para que pudéssemos, talvez, nos convertermos em um adequado anfitrião da Copa de 2010, com a capacidade de proporcionar o cenário que poderia fazer desse torneio esportivo um símbolo de esperança e constituir um grande bem para um país e um continente. A partida final da Copa de 2006 foi disputada no Estádio Olímpico de Berlim, construído pelo regime nazista para os Jogos Olímpicos de 1936. Adolf Hitler e seus seguidores nazistas estavam decididos a usar essa Olimpíada para mostrar a superioridade de sua diabólica ideologia, a supremacia da suposta raça ariana e, especialmente, a inferioridade das pessoas com ascendência africana. As intenções dos nazistas fracassaram completamente quando o atleta afro-norte-americano Jessé Owens ganhou quatro medalhas de ouro, fazendo assim em pedaços a injuriosa teoria de que as pessoas negras eram incapazes de ter êxito. Enfurecido, Hitler se negou a entregar as medalhas aos ganhadores para evitar apertar a mão do atleta negro que havia se constituído no melhor dos Jogos. Consciente do fato de que o flagelo do racismo continuar presente no mundo, a Fifa lançou campanha Diga Não ao Racismo durante a Copa 2006, precisamente no Estádio Olímpico de Berlim. A Copa de 2010, a ser realizada em um país e em um continente que conhece muito bem o verdadeiro significado do racismo, permitirá uma poderosa bofetada neste flagelo, do mesmo modo que Jessé Owens desferiu um forte golpe no racismo com sua destreza de atleta. Assim como negros e brancos uniram-se na África do Sul para assegurar as eleições pacíficas de 1994, que segundo Clinton tiveram “um enorme impacto histórico”, atuaremos unidos uma vez mais para que a Copa do Mundo de 2010, a primeira a ser realizada em nosso continente, marque verdadeiramente o renascimento da África. (IPS/Envolverde) (*) Thabo Mbeki, presidente da África do Sul. Crédito: Shayne Robinson (Envolverde/ IPS)