ISTOÉ de 10 de setembro de 2003. Chile Foi na condição de “araponga” que o diplomata Jacques Guilbaud serviu no Chile. Cumprida a “tarefa” de espionar exilados, ele seguiu para Portugal em 1977. “Minha missão seria a de apurar, isto é, confirmar o envolvimento de diplomatas brasileiros com os soviéticos (KGB)”, escreveu Guilbaud ao advogado Francisco Arrais Rosal, referindo-se à polícia secreta da extinta União Soviética. Apesar de ter desempenhado um papel pouco nobre no período, Guilbaud conquistou do governo federal, no fim do ano passado, uma pensão mensal vitalícia de R$ 8.500, além de uma indenização de R$ 955 mil, como se tivesse sido vítima de perseguição pela ditadura brasileira. Pelos registros do Itamaraty, o diplomata foi demitido em 1980, por abandono de emprego, quando servia no Consulado de Toronto, no Canadá. O embaixador Rubens Ricupero, hoje secretário-geral de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas (Unctad), em Genebra, na Suíça, presidiu a comissão que se deslocou para Toronto para apurar os motivos da ausência do diplomata. Como Guilbaud não atendia o telefone, um funcionário foi enviado a sua casa, mas ele se recusou a assinar uma citação. De uma segunda vez, quem atendeu foi a empregada, que ficou de chamar Guilbaud. “Passou um certo tempo e a rua foi invadida por carros de polícia, que prenderam nosso representante. Guilbaud chamara a polícia dizendo que éramos do esquadrão da morte e íamos exterminá-lo”, relata Ricupero. Curiosamente, o secretário-geral não foi ouvido pela Comissão de Anistia que decidiu pela indenização de Guilbaud.