sexta-feira, junho 23, 2006

4) MAIS BRONCA / César Maia

ISTOÉ de 10 de setembro de 2003.
    
Chile

Foi na condição de “araponga” que o diplomata Jacques Guilbaud serviu no Chile.
Cumprida a “tarefa” de espionar exilados, ele seguiu para Portugal em 1977.
“Minha missão seria a de apurar, isto é, confirmar o envolvimento de diplomatas
brasileiros com os soviéticos (KGB)”, escreveu Guilbaud ao advogado Francisco
Arrais Rosal, referindo-se à polícia secreta da extinta União Soviética. Apesar
de ter desempenhado um papel pouco nobre no período, Guilbaud conquistou do
governo federal, no fim do ano passado, uma pensão mensal vitalícia de R$ 8.500,
além de uma indenização de R$ 955 mil, como se tivesse sido vítima de
perseguição pela ditadura brasileira.
Pelos registros do Itamaraty, o diplomata foi demitido em 1980, por abandono de
emprego, quando servia no Consulado de Toronto, no Canadá. O embaixador Rubens
Ricupero, hoje secretário-geral de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas
(Unctad), em Genebra, na Suíça, presidiu a comissão que se deslocou para Toronto
para apurar os motivos da ausência do diplomata. Como Guilbaud não atendia o
telefone, um funcionário foi enviado a sua casa, mas ele se recusou a assinar
uma citação. De uma segunda vez, quem atendeu foi a empregada, que ficou de
chamar Guilbaud. “Passou um certo tempo e a rua foi invadida por carros de
polícia, que prenderam nosso representante. Guilbaud chamara a polícia dizendo
que éramos do esquadrão da morte e íamos exterminá-lo”, relata Ricupero.
Curiosamente, o secretário-geral não foi ouvido pela Comissão de Anistia que
decidiu pela indenização de Guilbaud.